The Strokes - «First impressions of Earth»
Publicada por RUC'n'Roll - Radio Universidade de Coimbra à(s) 12:58 da manhã «First impressions of Earth»
The Strokes
(RCA, 2006)
E aí está o primeiro disco deste ano acabado de estrear. Depois de uma auspiciosa estreia e de um segundo e óptimo registo - mas que não veio lançar pistas quanto ao futuro da banda - os Strokes encontram-se na incómoda situação do «make or break».
A história é bem conhecida. Corria o ano de 2001 e a imprensa fez regressar um monstro que ela própria tinha enterrado. Chamaram-lhe a ressurreição do rock e os nova-iorquinos The Strokes foram os porta-estandartes escolhidos para esta dita mini-revolução (outros nomes que vêm sempre por arrasto: The White Stripes ou Black Rebel Motorcycle Club). No centro das atenções estava «Is this it?», registo de estreia que deverá acompanhar «The Velvet Underground and Nico ou Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band» em qualquer estante (e que será concerteza fonte de inspiração para os jovens de 2025). Nesse momento os Strokes eram cinco rapazes bem parecidos com o melhor emprego do mundo.
A verdade é que o primeiro LP dos Strokes era a banda sonora perfeita para a estética hedonista do rock n´roll: calças de ganga, all-star e cigarro ao canto da boca, cada minuto uma festa, um dia de cada vez. Canções de três minutos e meio, refrões perfeitos e mais não era preciso em meia hora de celebração. Um disco de uma vida que deixou aos Strokes uma montanha para escalar – o eterno problema do arriscar a diferença ou cair em repetição. O segundo disco ainda contornou habilmente esta realidade (com mais duas mãos cheias de grandes canções) mas ficava no ar a ideia de que o tempo estava a escassear para estes rapazes.
Chegamos então a «First Impressions of Earth» (FIE). Os primeiros sinais de alarme são dados pela capa (minimalismo não é igual a criatividade...) e por um título escolhido apenas porque tinha que ser. Quanto à música (afinal, aquilo que importa), sente-se a consciência de que era necessário mudar mas uma indecisão quanto à direcção a seguir. O que acaba por resultar num conjunto de temas que na sua maioria não deixam rasto. O som continua a ter marca registada Strokes - com uma vertente pop omnipresente - e nota-se que a banda está melhor tecnicamente. Infelizmente, técnica não é sinónimo de emoção (sim, os solos de guitarra estão de volta...ouçam «Vision of Division») e FIE não tem chama. A voz de Julian Casablancas continua esforçada e as letras, todos sabemos, nunca foram o ex-libris dos Strokes («I’ve got nothing to say, Ask me anything»). Considerações poéticas à parte, isso também nunca foi o mais importante.
Especificando: FIE até começa bem, com quatro grandes propostas. «You only live once» (porventura uma referência implícita a «Is this it?») e sentimo-nos em casa. Uma «Juicebox» do mais agressivo que os rapazes já gravaram bem ao jeito de Batman - a série - mas com uma ou outra quebra a mais (um single de avanço veiculado antes do tempo por obra e graça da mãe Internet). Há ainda «Heart in a cage» - um dos momentos cimeiros do disco - a fazer lembrar os dois anteriores registos e incursões em terrenos mais suaves («Ask me anything» e «Killing lies»).
Feitas as contas, parece-nos que já ouvimos isto. E melhor. Pelos próprios. O que por si só já seria motivo para sorrisos. Mas o relógio não pára. Talvez até a opinião fosse ligeiramente diferente se o disco não fosse tão longo. Com 14 faixas e quase uma hora de duração torna-se difícil não saltar fora a meio da viagem. Impõe-se pois a questão: para quê ter FIE se podemos ouvir «Is this it?» e até «Room on Fire»?
Arredondamentos à parte (mais disco, menos disco) este deverá ser o canto do cisne dos rapazes que trouxeram de volta o rock para a ribalta...«Last nite». Acrescente-se pois um subtítulo a «First Impressions of Earth»: «This was it».
João Terêncio
The Strokes
(RCA, 2006)
E aí está o primeiro disco deste ano acabado de estrear. Depois de uma auspiciosa estreia e de um segundo e óptimo registo - mas que não veio lançar pistas quanto ao futuro da banda - os Strokes encontram-se na incómoda situação do «make or break».
A história é bem conhecida. Corria o ano de 2001 e a imprensa fez regressar um monstro que ela própria tinha enterrado. Chamaram-lhe a ressurreição do rock e os nova-iorquinos The Strokes foram os porta-estandartes escolhidos para esta dita mini-revolução (outros nomes que vêm sempre por arrasto: The White Stripes ou Black Rebel Motorcycle Club). No centro das atenções estava «Is this it?», registo de estreia que deverá acompanhar «The Velvet Underground and Nico ou Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band» em qualquer estante (e que será concerteza fonte de inspiração para os jovens de 2025). Nesse momento os Strokes eram cinco rapazes bem parecidos com o melhor emprego do mundo.
A verdade é que o primeiro LP dos Strokes era a banda sonora perfeita para a estética hedonista do rock n´roll: calças de ganga, all-star e cigarro ao canto da boca, cada minuto uma festa, um dia de cada vez. Canções de três minutos e meio, refrões perfeitos e mais não era preciso em meia hora de celebração. Um disco de uma vida que deixou aos Strokes uma montanha para escalar – o eterno problema do arriscar a diferença ou cair em repetição. O segundo disco ainda contornou habilmente esta realidade (com mais duas mãos cheias de grandes canções) mas ficava no ar a ideia de que o tempo estava a escassear para estes rapazes.
Chegamos então a «First Impressions of Earth» (FIE). Os primeiros sinais de alarme são dados pela capa (minimalismo não é igual a criatividade...) e por um título escolhido apenas porque tinha que ser. Quanto à música (afinal, aquilo que importa), sente-se a consciência de que era necessário mudar mas uma indecisão quanto à direcção a seguir. O que acaba por resultar num conjunto de temas que na sua maioria não deixam rasto. O som continua a ter marca registada Strokes - com uma vertente pop omnipresente - e nota-se que a banda está melhor tecnicamente. Infelizmente, técnica não é sinónimo de emoção (sim, os solos de guitarra estão de volta...ouçam «Vision of Division») e FIE não tem chama. A voz de Julian Casablancas continua esforçada e as letras, todos sabemos, nunca foram o ex-libris dos Strokes («I’ve got nothing to say, Ask me anything»). Considerações poéticas à parte, isso também nunca foi o mais importante.
Especificando: FIE até começa bem, com quatro grandes propostas. «You only live once» (porventura uma referência implícita a «Is this it?») e sentimo-nos em casa. Uma «Juicebox» do mais agressivo que os rapazes já gravaram bem ao jeito de Batman - a série - mas com uma ou outra quebra a mais (um single de avanço veiculado antes do tempo por obra e graça da mãe Internet). Há ainda «Heart in a cage» - um dos momentos cimeiros do disco - a fazer lembrar os dois anteriores registos e incursões em terrenos mais suaves («Ask me anything» e «Killing lies»).
Feitas as contas, parece-nos que já ouvimos isto. E melhor. Pelos próprios. O que por si só já seria motivo para sorrisos. Mas o relógio não pára. Talvez até a opinião fosse ligeiramente diferente se o disco não fosse tão longo. Com 14 faixas e quase uma hora de duração torna-se difícil não saltar fora a meio da viagem. Impõe-se pois a questão: para quê ter FIE se podemos ouvir «Is this it?» e até «Room on Fire»?
Arredondamentos à parte (mais disco, menos disco) este deverá ser o canto do cisne dos rapazes que trouxeram de volta o rock para a ribalta...«Last nite». Acrescente-se pois um subtítulo a «First Impressions of Earth»: «This was it».
João Terêncio
Esta crítica está também na página da Rádio Universidade de Coimbra: http://www.ruc.pt/sonoridade.php?id=53
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