Novo disco de Stephen Malkmus


Stephen Malkmus & The Jicks - Real Emotional Trash

Domino / Matador / Edel
2008


«« Quase três anos passaram desde “Face The Truth” e quase dois depois da barreira dos 40. Stephen Malkmus regressa agora com “Real Emotional Trash” (RET), que pode muito bem ser Malkmus a assumir novamente os The Jicks como um verdadeiro grupo e não como uma banda de suporte para os devaneios solitários em período pós–Pavement.

Para além de ter a aliciante de ser mais um disco de Malkmus, RET marca a entrada na formação de uma nova baterista, Jane Weiss, das Sleater Kinney, que assim se junta à baixista Joanna Bolme (com quem partilha desde o ano passado os Quasi) e a Mike Clark, ora nos teclados, ora na guitarra.
Ao observar a casca, antes de chegarmos ao sumo, o ‘artwork’ da capa revela–se bem ilustrativo daquilo que o disco nos pode dar. Em constante espiral sonora, RET não vai directo ao ouvido, lançando–nos antes para uma jornada de saudável psicadelismo que, no entanto, se aproxima mais do telúrico e se desprove de invocações acerca de agentes sobrenaturais.





“Dragonfly Pie”, o tema de abertura, começa com um ‘riff’ de guitarra inspirado em algumas construções dos anos 70 e que se misturam com voz ainda imberbe do rapaz que já passou dos 40. “Baltimore”, o primeiro single do álbum (que tem coros e solos), é também descrito na página da Domino como uma espécie de homenagem a grandes nomes da cidade norte–americana, como Edgar Allan Poe. “Hopscotch Willie”, tema que chega perto dos sete minutos, reinventa– se e dá lugar a uma espécie de ‘jam session’ que tresanda a programada mas que, no fundo, até nos sabe bem mesmo que seja por uma vez.
Em “Real Emotional Trash”, faixa que dá nome ao disco, Malkmus dá espaço para que cada momento de tensão apareça naturalmente e começa por desabafar, numa balada sincera que entretanto se torna num tema de dez minutos e se revela um exercício tecnicamente delicioso e milimetricamente dividido em dois actos (que se separados dificilmente sobreviveriam).
O maior raio de Sol de todo o disco vai para “Gardenia”, tem qualquer coisa de Primavera e é o lado mais pop de Malkmus a sobressair por entre os emaranhados de guitarras.

Para os Jicks a vida parece ser simples, feita de realidades também elas simples. Para os fãs, RET poderá ser o melhor ou o pior. Para aqueles a quem o nome Stephen Malkmus sempre passou ao lado, vai continuar a passar. »»



[Crítica inserida no nº 179 do Jornal Universitário de Coimbra ]



João Alexandre

0 comentários:

Mensagem mais recente Mensagem antiga Página inicial

RUC | 107.9FM | Emissão Online.